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Artigos-->MALCOLM MCLAREN e a invenção do PUNK (uma entrevista) -- 26/11/2001 - 14:06 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há 25 anos surgia o primeiro single dos Sex Pistols: ponto de partida para o movimento punk em escala mundial. Por ocasião do jubileu, uma retrospectiva irada de Malcolm McLaren, o empresário da banda, que bolou a brincadeira toda.





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Entrevista conduzida por Detlev Reinert (DIE ZEIT online, Leben 48/2001)

Trad.: zé pedro antunes



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Mr. McLaren, o que era o punk na época em que tudo começou?



O mais importante era de repente todo mundo poder se expressar e, com isso, praticamente se transformar em artista. Àqueles que tinham poucas aptidões e, à margem da sociedade, viviam sem ser notados, o punk permitiu um grito revolucionário. O culto ao feio, o diletantismo e a irresponsabilidade tendo-se transformado em características de uma nova geração que queria ser importante.



Qual foi o cerne da rebelião?



O astro foi substituído pelo fã. Já antes disso eu curtia a idéia de fazer com que os desesperançados tivessem uma aparência especialmente pobre – resultava honesto e ao mesmo tempo chocante. Por outro lado, queria fazer com que o ruim se tornasse bom, já que o bom vinha sempre exibindo uma aparência espantosamente chata. O punk deveria preencher o meu sonho de vida como adolescente: ser sempre selvagem e nunca levar uma vida normal! Para poder concretizá-lo, foi preciso inventar um novo território: o punk.



Os Sex Pistols existiram apenas por dois anos. Esta rebelião teria fracassado em seu desejo de destruição permanente?



Mal criavam um novo astro, já me dava vontade de tornar a destruí-lo. Pois isso tornava a produzir uma nova agressão e, com ela, uma nova energia artística. Isso era tremendamente importante. Uma criança também costuma destruir os seus brinquedos, para saber como são feitos. A destruição é um fundamento da criatividade.



Quais foram os slogans mais importantes?



"Cash from Chaos" e "Don t trust a hippie" eram os meus preferidos.



Você foi considerado tanto o gênio como o "cuzão do punk".



Ninguém pode ser um provocador e acreditar que não vai fazer inimigos. A filosofia do punk não era fácil de se entender. Eram pensamentos irremediavelmente nihilistas – para uma vida de êxito incomum. Esta dialética não foi entendida por quase ninguém.



Ou seja, não se tratava de uma revolução proletária, mas do mais escarrado capitalismo: dinheiro, luxo, status e poder?



O que mais poderia ser? Afinal eu fui desovado, no início dos anos setenta, pelas academias de arte de Londres, que são elitistas, tendo me confrontado com o dadaísmo, com a pop-art e com o situacionismo francês [Nota do Trad.: confira “A vitória amarga do surrealismo”, “Entre Marxismo e Surrealismo”, de Peter Wollen, e “Uma das melhores idéias do século XX”, de autor desconhecido, por mim traduzidos especialmente para este site. Confira ainda “A internacional situacionista”]. Para mim, nunca se tratou de cultivar um arte do fracasso assumido, eu não sou o tipo do perdedor travestido de dandy. Eu quero o sucesso. Isso deixou muita gente furiosa.



Onde estão as origens do punk?



Na moda. Foi o meu primeiro meio de comunicação. Só a moda possui essa energia extraordinária para produzir uma identidade de massas. Ela é imediatamente reconhecível como munição, insígnia, uniforme – como uma arma. O punk foi uma moda fantástica, mas eu precisava de música. Foi somente a partir dessa junção de moda e música que surgiu a imagem completa do que se passava nas ruas naquela época.



Você é tido como o grande manipulador dessa época. Qual foi a sua estratégia?



Para isso precisei de pessoas, com as quais eu trabalhava como se fosse um escultor ou pintor. Em vez de pedras ou cores, eu trabalhava justamente as pessoas. Minhas lojas de moda se transformaram em escolas superiores de arte, nas quais tudo se encontrava. Nesses portos, comecei a criar minhas próprias leis, tendo erigido um antimundo completo.



Já havia existido uma cena semelhante em Manhattan. Houve interferências, ligações paralelas com ela?



Eu era fascinado por Andy Warhol e pelo The Velvet Underground. Por ter feito da arte uma moda, Warhol acabou me influenciando enormente. Johnny Rotten nunca teve o talento de Lou Reed, como eu tampouco era Andy Warhol. Mas, de uma forma semelhantemente pragmática, eu também conseguia inspirar as pessoas como ele fazia – e fazer uso delas. Depois de ter criado a antimoda, uma mistura de street-look barato e esfarrapado com S & M-Chic, surgiu a antimúsica.



Os Sex Pistols não concordariam necessariamente com essa cronologia.



É claro que não. Mas o que sobrou deles foi o visual, não a música. A combinação era revolucionária, mas, musicalmente, não fizeram senão afanar riffs de Chuck Berry e acordes do Abba. Novos eram os textos. De repente já não se falava mais em sofrimentos amorosos, a eterna busca de um sentido para a vida ou a frustração pubertária, como na maioria das canções pop. Tratava-se agora de anarquia, ódio e rebelião.



Mas ao menos essa energia partiu dos Sex Pistols?



Também este território foi contaminado por mim, não importando tanto o que Johnny Rotten possa afirmar a respeito. Eu inventei o nome Sex Pistols, os textos tendo sido escritos por mim e pelo meu time de colaboradores. No início era um grupo maravilhoso, die pulou fora para destruir a indústria do disco.



Foi esse o único sentido?



Não, pois a cultura como um todo já de há muito se deteriorara em mercadoria: corrompida, arrogante, ridícula e sem a menor importância. Essa nova geração sentia isso. Havia no ar um cheiro de aventura e de emoção de viver. Isso fez com que o punk se tornasse tão atrativo. Também por ser barato. Com poucos acessórios, um bastão preto para maquiagem e alguns alfinetes de gancho, qualquer jovem podia criar o seu próprio visual punk.



A antimoda foi também um ataque desferido contra o mundo luxuoso das passarelas?



Era para ser um ataque ao mundo da alta costura como um todo, tal como ele se apresentava na revista Vogue, por exemplo. Hoje a própria moda punk chegou às passarelas internacionais, bastando tomarmos o designer John Galliano, que trabalha para Christian Dior. E a destruição da moda prossegue nas pequenas casas de moda de Hamburgo, Berlim, Londres, Paris ou Nova Iorque. O punk criou uma estética própria, a exibir os seus desdobramentos muito tempo depois de morta a música. Sem o punk rock, onde estariam hoje Rei Kawakubo do “Comme des Garçons” ou Vivienne Westwood?



E o que houve com a herança de Johnny Rotten, a figura de frente dos Sex Pistols?



Nada. Há mais de dez anos ele repousa na praia em Malibu. O que ele realizou de convincente? Por que razão não se apresenta todo dia em algum lugar do mundo? E se Steve Jones é um guitarrista tão fantástico, por que seus álbuns não vendem milhões de cópias? Sua música nunca foi e continua não sendo importante, é simplesmente uma merda.



Glen Matlock, um componente fundador dos Sex Pistols, afirma que você teria explorado a banda de forma desavergonhada, como um senhor de escravos, além de falar muita merda.



É claro. Mas o que fez Glen Matlock desde os Sex Pistols? Esta pergunta deveria, aliás, ficar gravada em sua lápide. A verdade é que não se trata de um bom artista. Como Johnny Rotten, que nem cantar sabia. Glen nunca teve uma idéia. Como a alguns outros, o que lhe falta é simplesmente inteligência para poder se dar conta disso. A tarefa deles era mobilizar uma geração inteira – não fazer imitações ruins de Chuck Berry.



Mesmo assim, do ponto de vista musical, o punk rock teve grandes conseqüências.



Mas isso apenas porque ele próprio se fez supérfluo. Depois do punk rock veio o hip-hop. As guitarras são hoje supérfluas. A moderna técnica dos samplers dispensa hoje um Glen Matlock ou um Johnny Rotten. Esta idéia me é especialmente cara! O hip-hop é simplesmente muito mais legal.



O que acha de bandas neo-punk como Green Day, The Bloodhound Gang ou The Offspring?



Não possso levá-las a sério, pois o punk funcionou apenas num determinado momento histórico. Vivemos num mundo retrô: As pessoas gostam de se vestir, de entrar num determinado papel por uma noite. Eventualmente, mesmo no papel do punk.



Hoje é ainda possível provocar efetivamente?



Para a nova geração, a música não é mais a voz mais importante da cultura pop. A verdade é que, do ponto de vista quantitativo, a música pop está mais produtiva do que nunca, só que perdeu inteiramente em importância. A música tornou-se um produto descartável, com o qual ninguém mais se ocupa. Pode-se constatar isso no fato de os astros pop não ocuparem mais as capas das grandes revistas. Deixaram de ser os filósofos ou detectores de tendências de nossa época, papel que desempenharam nos anos 60 e 70. Não nos interessam mais.



E o que entrou em seu lugar?



Esporte e moda. Esportistas são deuses, capazes de coisas inacreditáveis. À exceção dos EUA, o futebol domina hoje o mundo inteiro. Nenhum astro do pop detém hoje esse poder. Nesse meio, a verdade é que cada astro passou a ter um assessor para assuntos relativos à moda. A moda é a força motriz do estilo de vida e, com isso, de ramos inteiros da economia.



Por que o punk, o hip-hop e o techno não possuem mais essa energia?



A música é demasiado abstrata para para lidar com coisas tão concretas. A música pop abraçou a sua culpa, não precisa mais fazer panfletagem para nenhuma revolução. O que hoje nos interessa é muito mais a tecnologia moderna e um estilo de vida luxuoso. E esta é a conquista histórica do punk.







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